Uma história carinhosa digna de um filme

Surgiu nas nossas vidas um pouco por acaso. A M. tinha medo de cães e esse era um medo que tinha de ser combatido o quanto antes. Primeiro porque toda a família adora estes felpudos de quatro patas, e segundo porque os receios muitas vezes toldam-nos a forma de agir e atribuiem-nos um pânico que nos deixa impotentes e paralizados perante situações que envolvam esse medo. E isso tinha de ser contornado. Mas enquanto decidiamos o que fazer, uma pessoa amiga acabou por nos oferecer um rafeirinho super fofo, repleto de pelo e extremamente hiperactivo. 

Foi para nossa casa com um mês de idade. A M achou-lhe muita piada, mas manteve sempre a distância. A verdade é que a bola de pelo, batizada de Peter, adorava ferrar os dentes afiados. Brincadeiras de cachorro, naturais, mas que por vezes assustam as crianças. Apesar disso, o Peter era o constante tema de conversa. O Peter fez isto, o Peter fez aquilo, o Peter quer isto, o Peter não pode comer aquilo. Rapidamente, a família ficou rendida aos encantos de um cachorro minorca, felpudo, que roía todos os sapatos, que se aninhava nas pernas de alguém sempre que fazia uma asneira. Mas o grande amor que cresceu por aquele elemento da família, contrastou com o pouco tempo que o Peter esteve efectivamente connosco. Um dia chegámos a casa, e não houve recepção eufórica, nada de pulos, nada de olhinhos carinhosos...nada...apenas silêncio e vazio. Por alguma razão que nunca chegámos a perceber, o felpudo canino tinha desaparecido.

As lágrimas foram gerais, as buscas incessantes, a divlugação nas redes sociais também. O desânimo foi total quando percebemos que o chip de identificação do Peter só funcionaria caso este fosse entregue numa clínica para leitura. A nossa ideia inicial era a de que o chip funcionaria com coordenadas GPS. Ideia ingénua e errada. Aguardámos, aguardámos e nada, reinava o silêncio. 

Um ano depois desta perda, o senhor que nos tinha oferecido o Peter, decidiu oferecer-nos um irmão mais novo. Mais um rafeiro lindo de morrer, que mais uma vez nos conquistou e que tem estado connosco desde essa data.

 Mas esta história termina com um volte-face completamente inesperado. Em Dezembro, recebi uma chamada que dava conta que o Peter tinha aparecido, que tinha sido entregue numa clínica por duas senhoras. Inicialmente, tentei explicar à senhora que estava equivocada, depois caí em mim, depois fui a correr para a clínica. Chorei, desesperei, ri, abracei o Peter, deixei-o saltar para o meu colo. E o coração apertou-se bastante. Ele não reconhecia o nome, não me reconhecia. Mas nada disso importava, ele estava ali a responder à minha persistente pergunta: Será que está bem? Estava, lindo, bem alimentado, escovado, bem tratado. Depois do choque, e tendo em conta todos os sinais de bem estar que o canito apresentava, decidi procurar os seus possíveis segundos donos. Apesar dos esforços, ninguém reclamou uma possível tutela do Peter. Já passaram dois meses e ele já se habituou novamente à família e é um amor. Um amor que estamos a tratar bem e a proteger para que não voltemos a ter surpresas desagradáveis.


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